REVIEW: “Minari”

Uma família coreana sai de sua terra natal para buscar o famigerado sonho norte-americano e terá que enfrentar diferenças culturais, obstáculos econômicos e os próprios conflitos que cada membro apresenta, tudo isso tendo como pano de fundo a década de 80. “Minari” foi escrito e dirigido por Lee Isaac Chung e já deixa escrachado em tela que é um projeto mais simples, contemplativo, mas isso não significa que o filme não tenha camadas.

Conhecer as demandas de cada personagem faz com que a experiência cinematográfica em “Minari” seja interessante durante quase as suas duas horas de narrativa. Jacob (Steven Yeun) é um pai que carrega a responsabilidade geracional compulsória de “vencer na vida”. Ele precisa mostrar desde cedo aos seus filhos, Anne (Noel Cho) e David (Alan Kim), que quase tudo é uma luta diária por sobrevivência e que desistir do grande sonho da estabilidade financeira não é uma opção.

Enquanto isso, há o desconforto constante e a saudade de casa que Monica (Yeri Han) demonstra todos os dias na nova rotina da família. É nítido como ela carrega incertezas sobre colocar os objetivos de seu marido em primeiro plano, mesmo assim, a personagem segue o ritmo da história de sua família para focar no cuidado dos filhos. Quando a vovó Soonja (Yuh-Jung Youn) chega nos Estados Unidos, a dinâmica da família muda consideravelmente.

Soonja estabelece outra atmosfera no lar de Jacob e Monica, no começo existe a resistência gigantesca de David, que não a considera como uma legítima avó porque ela não apresenta um comportamento que é esperado por uma matriarca. No decorrer da trama, os relacionamentos ficam mais estreitos e novas formas de pensar o cotidiano são inseridas aos poucos na mentalidade de cada personagem. O clima tende a ficar mais leve, mas as crises entre a esposa e o marido se intensificam em diversos outros momentos. Esse toque realista escolhido pelo diretor dita o tom do longa inteiro: a inconstância de sentimentos e percepções acerca da confiança e do amor é um tema que permeia o enredo de modo formidável.

Outro ponto interessante que é levantado pelo filme é a discrepância cultural e o debate sobre a imigração em um dos países mais procurados por quem acredita na ideia de uma vida melhor em outra terra. Lembrando que, apesar de ter os anos oitenta como peça importante da história, “Minari” reflete uma atemporalidade temática muito eficaz e coerente. Nesse sentido, a família permanece se desviando dos obstáculos elaborados e vivendo um dia de cada vez.

“Minari” fica com você por um bom tempo após a primeira vez que você assiste. É cuidadoso, contemplativo, familiar na essência da palavra. É sobre entender o outro que mora com você, sem deixar de ouvir a sua voz interior e os seus questionamentos. O longa promove diálogos relevantes para os dias de hoje, principalmente no que diz respeito ao significado de afeto e entrega. É um ótimo filme.

INDICAÇÕES AO OSCAR:
MELHOR FILME
MELHOR DIREÇÃO
MELHOR ATOR
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
MELHOR TRILHA SONORA

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