REVIEW: “Nomadland”

Quando Chloé Zhao dirigiu o belíssimo “The Rider” (2017), o mundo ainda não a valorizava como deveria. 4 anos depois, o reconhecimento merecido veio e estou contando os dias para ver Zhao segurando a estatueta do Oscar 2021, na categoria de Melhor Direção. Não há nome com maior destaque que ela nessa temporada de prêmios. “Nomadland” já acumula 228 vitórias e irá adicionar algumas estatuetas douradas no dia 25 de abril.

Agora vamos ao que interessa. O longa conta a história da personagem Fern, interpretada por uma Frances McDormand que dispensa apresentações. Fern foi golpeada pela grande crise de 2008 e perdeu a sua casa e todas as chances de caminhar para uma aposentadoria tranquilíssima, como deveria ser. Tendo como a sua única posse um veículo, a protagonista resolve desbravar as estradas dos Estados Unidos como uma nômade. No caminho, ela conhece pessoas, cria laços importantes e passa a construir a nova fase de sua vida.

“Nomadland” é recheado de um realismo que sabe trabalhar a sensibilidade do olhar cinematográfico de modo formidável. Você não sabe se o que está sendo mostrado é roteirizado ou improvisado, mas não importa muito porque a experiência nos faz esquecer desse detalhe e conduz a gente para outro ângulo: a solitude como ferramenta de descoberta. Fern passou por perdas gigantescas e, ao encontrar um grupo de pessoas que caminham no mesmo ritmo que ela, surge a oportunidade de realizar conexões que provavelmente não seriam possíveis em outro contexto.

Os personagens em tela são pessoas reais, em sua maioria, Chloé Zhao optou por trabalhar com nômades verdadeiros, o que acaba criando um balanço interessante entre o que é filme e o que é “documentário”. O longa simplesmente flui, sem precisar se amarrar aos atos narrativos ou seguir fórmulas que amamos. As cenas mostram Fern dirigindo pela estrada, depois contemplando a sua própria companhia, em seguida, vemos ela trocar histórias de vida com outras pessoas incríveis. O enredo segue a sua própria rota e a performance de Mcdormand é de uma singularidade emocional que preenche qualquer vazio em tela.

A direção de fotografia concede um baile de imagens inesquecíveis e poderosas, principalmente da própria natureza que rodeia os Estados Unidos, mas sem deixar de revelar a tristeza das desigualdades sociais. O filme consegue ser crítico ao sistema capitalista de uma forma bastante interessante e inteligente: as imagens falam por si só e mostram ao público o quão devastador pode ser a vida de milhões de pessoas que não foram amparadas devidamente pelo estado, mesmo elas contribuindo para o funcionamento da economia de uma nação.

“Nomadland” é um filme poderoso que vai contra as regras estéticas e técnicas para contar uma história com uma atmosfera genuína e relevante. Seu propósito é amplo demais para ser facilmente debatido em uma simples review, mas podemos perceber reflexões sobre o conceito de perda, as histórias que são escondidas, os rostos esquecidos por um país que pode até vender o sonho do primeiro mundo, mas que no fundo carrega marcas de uma estrutura desigual e avassaladora.

INDICAÇÕES AO OSCAR:
MELHOR FILME
MELHOR DIREÇÃO
MELHOR ATRIZ
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
MELHOR FOTOGRAFIA
MELHOR EDIÇÃO

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